domingo, 27 de fevereiro de 2011
Touradas
Estamos mesmo a viver tempos de touradas. Em Vinhais construiram uma praça de touros para quê? A tourada é permanente aqui, ali, além e mais além e não são necessárias praças de touros. Por isso,penso eu, as contas da câmara devem estar a abarrotar de euros para a edilidade ter decidido construir uma praça de touros - a segunda a norte do Douro, diz-se. Numa época de vacas magras ( mesmo que fosse de vacas gordas ),como se permite uma câmara tomar esta abstrusa decisão, quando até no reino dos touros, aqui ao lado da nossa república, já se começa a contestar a festa brava. Dizem que são coisas da tradição,que o povo gosta, que se podem perder muitos postos de trabalho... Bom,tradition is tradition, mas há tradições e tradições. Os defensores da festa brava deitam mão de mirambolantes conhecimentos de psicologia animal, que o desgraçado do animal nada sofre, antes pelo contrário - certamente até goza, serão os touros masoquistas? - que são criados para aquele fim, e outros desaforos que qualquer pessoa bem formada tem forçosamente de rejeitar. Mas vamos lá ver essas coisas ditas da tradição:a excisão do clitoris é tradição;a lapidação das adúlteras é tradição;os castigos corporais levados a efeito pelos pais sobre os filhos é tradição;cuspir no chão é tradição, como fumar em locais públicos;os combates de galos e de cães também são tradição e até os combates de morte de gladiadores eram, em tempos pretéritos, tradição admirada - vamos restaurá-la? O nosso tempo, felizmente,trouxe-nos discernimento suficiente para distinguir o que deve conservar-se e o que deve banir-se dos nossos hábitos. Ora, a tourada, que alguns até equiparam a um ballet de bailarinos com eles bem no sítio,situa-se entre estas atividades que não devem eternizar-se porque se trata apenas de um espetáculo de luxo: trajes de grande riqueza, cavalos lustrosos e bem adestrados que até sabem também dançar, homens esbeltos, galhardos e corajosos. E depois, um público bacoco, egoísta, e, de vez em quando, umas gaitadas a mando de um "inteligente". Mas neste especáculo há um condenado que vai morrendo devagar para gáudio dos mirones ao qual, para cúmulo, depois de morto, até lhe cortam o rabo e as orelhas, que o artista matador, cheio de júbilo, qual general vitorioso, ergue no ar, recebendo em troca choruda ovação. Apenas isto.
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