Coincidência imprevista: este ano o Dia Internacional da Mulher coincidiu com o dia de Carnaval. Esta coincidência não é de modo algum pura ironia por a Mulher actual reinvindicar para si um estatuto idêntico ao do Homem. Parce-me que já quase o atingiu, exceto no que diz respeito ao direito a um posto de trabalho e a salário igual. Falo, obviamente, da presença da Mulher na nossa sociedade. Noutras culturas ainda têm muito que sofrer e trabalhar para atingirem o respeito que merecem.
Destes tempos, embora já falecida, sobressai uma figura ímpar da política, das letras e da nossa vida social: Natália Correia.
Transcrevo um poema a que a poetisa titulou "Auto-retrato", que podia ser o da Mulher.
Auto-retrato
Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
Natália Correia
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário