O discurso do Presidente Cavaco Silva foi duma enorme coragem. Não há memória dum discurso de posse em que o novo Presidente tenha criticado tão duramente o Presidente anterior. Ao referir-se à década perdida, o PR inclui o último quinquénio e, por isso, não critica apenas o Governo mas acaba, também, por fazer uma autocrítica impiedosa.
Valha a verdade que não se ficou por aqui. A sua autocrítica estendeu-se até ao tempo em que foi Primeiro Ministro.
Quando afirma que “ O exercício de funções públicas deve ser prestigiado pelos melhores, o que exige que as nomeações para os cargos dirigentes da Administração sejam pautadas exclusivamente por critérios de mérito e não pela filiação partidária dos nomeados ou pelas suas simpatias políticas.”, deve estar arrependido de ter permitido, enquanto PM, que a Administração Pública se tivesse transformado numa grande coutada partidária. Recordemos que foi durante um seu Governo que a Saúde viu chegar os primeiros “gestores de reconhecido mérito”, com os resultados que se conhecem.
Quando declara que “ é crucial a realização de reformas estruturais destinadas a diminuir o peso da despesa pública” deve estar com certeza a lembrar-se de criação das carreiras especiais na Função Pública e do peso que tiveram na criação do “Monstro”.
Quando afirma “ É crucial aprofundar o potencial competitivo de sectores como a floresta, o mar, a cultura e o lazer, as indústrias criativas, o turismo e a agricultura, onde detemos vantagens naturais diferenciadoras.”, deve estar a reflectir no texto de Miguel Sousa Tavares no Expresso de 13 de Maio de 2010:
“Na década do agora inimigo das grandes obras públicas, Cavaco Silva, construímos sem parar: auto-estradas e hospitais, escolas e tudo mais. "O país está dotado de infra-estruturas!", proclamou-se, triunfantemente. E, de facto, o país precisava. O problema é que, enquanto se dotava de infra-estruturas para servir a economia, o país vendia a economia, a troco de subsídios para abate e set-aside: vendemos assim a agricultura, as pescas, as minas, a marinha mercante, os portos, as indústrias que podiam vir a ser competitivas - ficámos com os têxteis e o fado. E, quando alguém, subitamente, perguntou "de que vamos viver no futuro?", sorriram, com ar complacente. Então, não era óbvia a resposta? Iríamos viver dos serviços, do turismo, da "sociedade de informação" e... de Bruxelas."
Diz o PR: “Não podemos assistir de braços cruzados à saída de empresas do nosso País. Pelo contrário, temos que pensar seriamente no que é que podemos fazer para atrair mais empresas.” Uma das coisas que não podemos deixar de fazer, diz o bilionário do Pingo Doce, é melhorar o sistema de Justiça. O PR deve estar a lembrar-se que, nessa área, a gesto mais significativo do seu mandato anterior foi receber o Presidente do Sindicato do Ministério Público.
Manifesta o PR a esperança “que todos os agentes políticos e poderes do Estado e os agentes económicos e financeiros estejam à altura das dificuldades do momento e dêem sentido de futuro aos sacrifícios exigidos aos Portugueses.”
O bilionário da Forbes, tal como a PT, tal como a Portucel, já deram o exemplo com a antecipação de dividendos. Mas, sobre isso, o anterior PR não se pronunciou.
Afirma ainda o PR “Em vários sectores da vida nacional, com destaque para o mundo das empresas, emergiram nos últimos anos sinais de uma cultura altamente nociva, assente na criação de laços pouco transparentes de dependência com os poderes públicos, fruto, em parte, das formas de influência e de domínio que o crescimento desmesurado do peso do Estado propicia. É uma cultura que tem de acabar. Deve ser clara a separação entre a esfera pública das decisões colectivas e a esfera privada dos interesses particulares”
É impossível que não se tenha lembrado do BPN.
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